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Por que o monitoramento é a ferramenta mais eficiente no combate ao Aedes

Nossa história com as arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti e sua propensão para gerar epidemias já é antiga. Convivemos com os perigos da dengue desde o fim do século XIX e, mesmo tendo erradicado o mosquito por um breve período nos anos 50, a falta de consistência nas ações de combate e prevenção ao vetor nos levou a graves surtos de zika e chikungunya nos últimos anos.

Segundo o epidemiologista carioca e professor da UFRJ, Roberto Medronho, que estuda há mais de 20 anos o combate à dengue no Brasil, este cenário não é resultado da utilização de estratégias “erradas”, mas da implantação falha dessas técnicas. Em reportagem da Revista Época, ele afirma: “É plenamente possível controlar o mosquito a ponto de impedir grandes epidemias”.

Para atingir este objetivo, a vigilância epidemiológica e o aperfeiçoamento do combate ao mosquito com inspeções nas casas em busca de criadouros, aliadas à educação da população, são as políticas mais defendidas pelos especialistas. Estamos falando de prevenção.

No entanto, grande parte do investimento bilionário mundial têm se concentrado em ações de combate ao vetor em sua fase adulta, especialmente durante períodos de epidemia, além de ações de levantamento de índice larvário, como o Liraa e o LI+T. Assim, o controle do vetor é feito através do combate focal das larvas, de acordo com as pesquisas, e do uso do inseticida para o vetor adulto – o que pode ser problemático e ineficiente caso não se mapeie as áreas em que ele se concentra.

Enquanto isso, as arboviroses se fortaleceram e diversificaram, em um cenário em que os recursos públicos se tornaram cada vez mais escassos. Mais do que nunca é necessário, portanto, realizar ações de prevenção e combate de forma integrada, otimizando o uso da verba e considerando a população do mosquito – onde está e o que transmite.

Para estimar a população do Aedes, o Ministério da Saúde já reconhece o monitoramento do vetor adulto como o método mais eficaz. Esta conclusão está presente na Nota Técnica 03/2014, elaborada pela FIOCRUZ e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), que avaliou várias armadilhas disponíveis no mercado com potencial de estimar a população adulta de Aedes aegypti. Verificou-se que todas as armadilhas apresentam desempenho superior aos índices larvários, sob vários aspectos. Ou seja, soluções que mapeiam a o vetor nas cidades e analisam a presença dos vírus, especialmente nas fêmeas grávidas, têm o potencial de combatê-lo de forma muito mais direcionada.

Identificar áreas críticas, distribuir os esforços das equipes de campo e fazer melhor gestão das atividades de controle. Tudo isso é possível com a integração das informações sobre o vetor, os vírus e casos da doença. O MI-Aedes, tecnologia desenvolvida pela Ecovec, é um exemplo disso, já tendo reduzido em 60% os casos de dengue quando foi implantada em Minas Gerais, entre 2009 e 2011.

O sistema de monitoramento do MI-Aedes produz uma “fotografia” semanal da infestação do Aedes aegypti, com informações georreferenciadas da presença do mosquito – e dos vírus que carrega. Ele gera, então, relatórios de infestação e diagnósticos dos vírus antes das notificações de casos humanos, reduzindo a transmissão das doenças, facilitando a tomada de decisão para as ações de combate e, consequentemente, otimizando a alocação de recursos. Até mesmo a equipe tem sua atuação potencializada: 10% dos agentes ficam por conta do monitoramento preventivo, enquanto 90% da equipe vão para ações de controle.

Isso é possível a partir de um processo que começa com a captura dos vetores em armadilhas distribuídas homogeneamente pela cidade. Com uma pequena parcela da equipe de agentes de endemias, são feitas vistorias para coletá-los semanalmente. As vistorias geram relatórios de infestação, gráficos, mapas e tabelas, tudo em tempo real. Daí, os mosquitos coletados são ainda analisados em laboratório, detectando a presença dos vírus e antecipando os resultados da circulação viral de dengue, zika e chikungunya.

Ou seja, o MI-Aedes permite localizar os pontos com maior infestação do mosquito, podendo identificar as áreas prioritárias para ações de prevenção e controle. Além disso, é possível saber onde está ocorrendo circulação viral, direcionando recursos e planejando estrategicamente o que será feito. O monitoramento é, portanto, o primeiro passo para um combate eficiente ao Aedes aegypti.