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Ser mãe em tempos de Zika

A confirmação de que Zika e Microcefalia são relacionadas trouxe preocupação e dúvidas; ONGs oferecem apoio às famílias

Desde 2015, quando foi confirmada a correlação entre o vírus da Zika e o aumento de casos de microcefalia no Brasil, a atenção no combate ao Aedes aegypti redobrou. O assunto virou emergência nacional em saúde pública, e as ações de prevenção ao vetor, de eliminação de focos à orientação de cidadãos foram intensificadas, especialmente com gestantes.

Os cuidados surtiram efeito, e em maio deste ano foi encerrada a situação emergencial no país. Dos quase  3 mil bebês afetados* (número que coloca o Brasil em uma liderança muito a frente de outros países), foram 322 nascidos em 2017, segundo os dados oficiais. Tal declínio, porém, não indica que a guarda contra o Aedes deve baixar. Pelo contrário, enfatiza a importância de prevenir para erradicar a doença.

Enquanto isso, mães e pais que têm filhos com microcefalia buscam apoio para garantir a melhor vida possível para a família. Em Salvador, a ONG Abraço à Microcefalia é uma rede de apoio para quem busca informações e apoio para cuidar de crianças com microcefalia, desde suporte emocional até atendimento com profissionais. Tudo começou em 2016, com um grupo de WhatsApp.  

“Nós, mães, nos fortalecíamos e acompanhávamos as dúvidas umas das outras. Entre os principais assuntos, estavam como superar o preconceito, como garantir o direito de nossos filhos, além de como nós mesmas lidarmos com nossas crianças. Decidimos nos reunir presencialmente todas as semanas e o grupo que começou com 8 famílias foi crescendo. Fomos então atrás de doações e ajuda de profissionais”, conta Joana Passos, criadora da ONG. Mãe de duas filhas, ela foi motivada pela caçula, nascida em 2016, bem durante o surto de casos de microcefalia no país.

A Abraço à Microcefalia promove encontros, passeios, oficinas e palestras, além de consultas de fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia, complementando o atendimento que as crianças recebem no Sistema Único de Saúde (SUS). As mães recebem ainda leite, fraldas e brinquedos. Dependente de doações e trabalho voluntário, a ONG funciona em uma área cedida pela Associação das Senhoras de Caridade.

Assim como as famílias que chegam à Abraço, as dúvidas de pais e mães de crianças com microcefalia são muitas, e o número dessas pessoas aumentou consideravelmente desde 2015.  Selecionamos algumas das principais informações da Cartilha da Abraço à Microcefalia sobre o assunto e a sua relação com o ZIKV.

 

O que é a microcefalia?

A microcefalia é uma malformação congênita, em que o cérebro da criança não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, a circunferência do crânio é menor do que o considerado convencional para a idade e gênero do feto ou da criança (para menino, igual ou inferior a 31,9 cm e, para menina, igual ou inferior a 31,5 cm, no caso de bebês nascidos com mais de 37 semanas de gestação). No caso de bebês prematuros, a medida levará em conta a idade gestacional da criança.

 

Como o ZIKV consegue afetar o desenvolvimento do feto?

O vírus passa pela placenta e chega ao tecido cerebral, desacelerando o crescimento dos neurônios e outras células. Essa alteração do crescimento cerebral causa uma variação na taxa de crescimento do osso do crânio.

 

Toda mãe que teve Zika terá um bebê com microcefalia?

Pouco se conhece sobre o ZIKV e os fatores que poderiam influenciar a passagem deste vírus pela barreira placentária. Por isso, pode haver outros fatores que estejam relacionados à microcefalia. Contudo, pode-se afirmar que nenhuma infecção por Zika que ocorra durante a gravidez tem uma taxa de 100% de transmissão para o feto. E quando há a infecção do feto, os efeitos não se manifestam da mesma forma.

 

Como saber se o bebê tem microcefalia?

A microcefalia pode ser percebida na avaliação do bebê logo após o parto, momento em que costuma ser medido o perímetro da cabeça. Mas também existem sinais que indicam a condição no dia-a-dia da família, como a dificuldade na amamentação e alimentação, a espasticidade (distúrbio muscular que causa rigidez nos membros) e convulsões. Muitas dessas características permanecem nos anos seguintes, quando também podem ser notados deficiência intelectual e outros comprometimentos na visão, audição, fala e locomoção.

 

Mães infectadas pelo ZIKV devem amamentar?

As informações até agora não são suficientes para recomendar a suspensão da amamentação para a criança, se a mãe tiver Zika. Ainda não há estudos e testes que atestem transmissão de partículas virais pelo leite materno, capazes de transmitir a doença. A recomendação do Ministério da Saúde é que as lactantes continuem amamentando.