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A febre amarela urbana voltou?

Entenda a diferença entre febre amarela silvestre e urbana, e sua situação no Brasil

No início deste mês, um caso de febre amarela em São Bernardo do Campo (SP) deixou o Brasil em alerta. Inicialmente, foi divulgado que o homem infectado teria contraído a doença em sua variação urbana, após 75 anos desde a sua erradicação. No entanto, o Ministério da Saúde desmentiu a notícia, pois apesar de o paciente morar na cidade, trabalharia na área rural, estando exposto a vetores silvestres. O caso ainda está sendo investigado por uma equipe da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e é classificado como autóctone (originado na própria São Bernardo do Campo).

A polêmica chamou a atenção da mídia, pois a febre amarela silvestre, transmitida pelos mosquitos Haemagogus sp ou Sabethes sp, é a única que circula no país desde 1942. Essas espécies habitam apenas as áreas de florestas e regiões rurais. Essa variação da doença também é caracterizada pela maneira como os vetores são infectados: a partir de um hospedeiro silvestre, o macaco.

a febre amarela urbana seria transmitida pelo Aedes aegypti e o Aedes albopictus, adaptados às cidades, oferecendo um risco considerável no caso de um novo surto. Porém, o Ministério da Saúde declarou que a possibilidade da febre amarela urbana voltar a circular no Brasil é baixa, elencando uma série de fatores:

  • Todas as investigações dos casos conduzidas até o momento indicam exposição a áreas de matas;
  • Em todos os locais onde ocorreram casos humanos, também ocorreram casos em macacos;
  • Todas as ações de vigilância entomológica, com capturas de vetores urbanos e silvestres, não encontraram presença do vírus em mosquitos do gênero Aedes;
  • Já há um programa nacionalmente estabelecido de controle do Aedes aegypti em função de outras arboviroses (dengue, zika, chikungunya), que consegue manter níveis de infestação abaixo daquilo que os estudos consideram necessário para sustentar uma transmissão urbana de febre amarela; e
  • Há boas coberturas vacinais nas áreas de recomendação de vacina e uma vigilância muito sensível para detectar precocemente a circulação do vírus em novas áreas para adotar a vacinação oportunamente.

Mesmo assim, a situação dos surtos de febre amarela silvestre são preocupantes. Em janeiro deste ano, a Revista Fapesp citou um estudo do Instituto Adolfo Lutz que indica que, desde 2014, o vírus se propaga da Amazônia por meio de corredores de florestas, atravessando o Centro-Oeste, chegando a Minas Gerais (que registrou a maioria dos casos entre 2016 e 2017) e São Paulo e continuando rumo ao Espírito Santo.

A Febre Amarela passou a atingir regiões da Mata Atlântica no oeste de São Paulo, no Rio de Janeiro e partes da Bahia que antes não eram atingidas. Em 2017, o Ministério da Saúde já recomendava a vacinação para muitas cidades, em 22 estados brasileiros, do norte ao sul do país.  

O motivo exato dessa propagação ainda não é conhecido, mas há teorias de que isso ocorreu pela migração de macacos impulsionada por mudanças ambientais, ou pelo deslocamento de mosquitos infectados para áreas mais distantes.

Esses macacos são extremamente importantes na vigilância do vírus, uma vez que atuam como “sentinela”. É através de suas mortes que o Ministério, juntamente com as Secretarias de Estado e Secretarias Municipais, traçam o plano de contingência. O plano, neste caso, é a vacinação da população – através da dose única ou fracionada – à depender do estoque da Bio-Manguinhos/Fiocruz.

Segundo o biólogo e coordenador comercial da Ecovec, César Möllendorff, “o divisor de águas entre a febre amarela e as demais arboviroses é que para ela existe vacina desde a década de 40”. Inclusive, a vacina produzida no Brasil é reconhecida internacionalmente por sua eficácia. A adesão das pessoas a essa medida é essencial, já que precisamos evitar que as pessoas com a doença sirvam de reservatório para os mosquitos da área urbana.

Além disso, as medidas de controle do Aedes aegypti merecem atenção redobrada. Febre amarela urbana, zika, dengue e chikungunya são algumas das doenças que o mosquito transmite, e outras ainda podem chegar ao Brasil. No passado, as medidas de combate a dengue e febre amarela conseguiram erradicar o mosquito (duas vezes – em 1958 e em 1973), mas a prevenção inadequada nos anos que se seguiram possibilitaram que todas essas arboviroses voltassem, junto ao vetor. Confira aqui o e-book “Combatendo o Aedes”, sobre integração e otimização das medidas de combate ao Aedes aegypti.