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A dengue invisível

Como a dengue assintomática acomete grande parte da população

Febre, dor de cabeça (especialmente atrás dos olhos), vermelhidão e dores pelo corpo. Você não precisa sentir nada disso – nem nada mais grave – para estar infectado pela dengue. A forma mais comum da doença nos passa desapercebida. Estima-se que a dengue assintomática acometa de oito a dez pessoas para cada uma que desenvolva a doença.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 396 milhões de pessoas contraem o vírus todos os anos. No entanto, somente 96 milhões delas apresentam sintomas de dengue. Essa situação levanta uma série de questões.

Primeiro, a pessoa não apresentar os sinais da doença não significa que ela não transmita para mosquitos ainda não infectados. E justamente por não se afetarem tanto pelo vírus, seguirão expostas ao vetor em sua rotina diária, muito mais do que aquelas pessoas hospitalizadas ou em repouso.

Essa forma de transmissão do vírus foi comprovada há pouco mais de dois anos, por cientistas do Instituto Pasteur (do Camboja e de Paris) e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS).

“Essa descoberta levanta a possibilidade de que as pessoas que apresentam poucos ou nenhum sintoma, ou seja, a maioria das infecções, ajudam a perpetuar a transmissão do vírus em silêncio”, disse Louis Lambrechts, pesquisador do CNRS e líder do grupo de Interações Vírus-Insetos no Instituto Pasteur, em Paris.

Além da dengue assintomática, o vírus vem nas formas da dengue clássica, dengue hemorrágica ou a síndrome do choque da dengue, as duas últimas bem mais graves que a anterior. Segundo a OMS, cerca de 500 mil pessoas contraem versões mais severas da doença, das quais a maioria são crianças. Aproximadamente 2,5% deste número morre pelas complicações do vírus.

Um dos grandes perigos de uma dengue não diagnosticada é a associação dos quadros mais graves da doença com indivíduos que são infectados mais de uma vez. Ou seja, é mais provável que essa (grande) parcela da população que contraiu a dengue assintomática desenvolva a doença em formas mais graves da próxima, sofrendo com hemorragias. Por não saber desse risco, também é possível que a pessoa demore a buscar tratamento, ou comprometa seu diagnóstico.

Combate preventivo

É necessário que o poder público esteja, portanto, sempre um passo à frente da doença. Se grande parte da população é um potencial hospedeiro do vírus, mirar no vetor transmissor continua sendo a melhor solução. Apesar de já termos erradicado o Aedes aegypti em outras ocasiões no Brasil, hoje não se fala no fim do mosquito – mas em um controle inteligente. Antes do surto ocorrer, o combate deve ser feito de forma integrada e assertiva.