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O aquecimento global contribui para a proliferação do Aedes?

Sim! Estudo comprova que o vetor da dengue se tornou mais eficiente após mudanças climáticas

O derretimento de geleiras, a extinção de espécies e um aumento perigoso na temperatura da Terra. Já estamos colhendo as consequências das ações da humanidade para o aquecimento global, e sabemos que essas são algumas delas. Mas, além disso, novos estudos mostram novos problemas. É o caso do Lancet Countdown, publicação anual da revista científica Lancet, que mapeia o impacto das mudanças climáticas na saúde humana. Ela aponta uma tendência que atinge diretamente o nosso país: um aumento na capacidade de transmissão de doenças por mosquitos, como no caso da dengue.

Em sua última edição, os dados do Lancet Countdown comprovam um aumento da capacidade do Aedes aegypti na transmissão da dengue. Desde 1950, o vetor se tornou 9,4% mais eficiente em propagar a arbovirose, salto que se intensifica especialmente a partir de 1990. Os pesquisadores atribuem esse avanço às consequências do aquecimento global.

Segundo o relatório, foi em 1990 que o número de casos começou a dobrar, ano após ano. O último levantamento da OMS, de 2013, mostra que 58,4 milhões de pessoas sofreram com a doença. Considerando que a maioria dos casos é assintomática e existe uma dificuldade em contabilizá-los, estudos apontam que este número pode ser ainda muito maior.  Isso sem contar as outras arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, que também são beneficiadas por climas quentes e úmidos.

A Lancet ainda ressalta o risco da transmissão da dengue pelo outro Aedes, o Ae. albopictus. Apesar de estar menos presente no Brasil, não se deve desconsiderar sua importância na transmissão de arboviroses. Nos últimos 50 anos, esse mosquito se tornou 11,1% mais apto como vetor da doença.

O aumento da temperatura no planeta não significa puramente um mundo mais quente, mas secas em alguns lugares e chuvas descontroladas em outros. Onde há calor e umidade, o fenômeno intensifica esses aspectos, altamente benéficos à proliferação do Aedes. O próprio El Niño, acontecimento natural que compensa o aquecimento da água nos oceanos, agora se desequilibra e prejudica diversos ambientes.

Christovam Barcellos, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, explica em entrevista para o UOL: “A água dos oceanos não aquece de maneira uniforme e cria bolsões de calor. As correntes marítimas compensam esse calor desigual e tendem a deslocá-lo do oceano Índico para o Pacífico. Quanto mais quente, mais intenso é esse fenômeno”. Ou seja, onde já é quente e úmido, fica mais quente e úmido.

É claro que também é necessário contextualizar esse avanço da doença. Nos últimos 50 anos, a ação do ser humano não apenas aumentou a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, como também criou ambientes propícios para o desenvolvimento do Aedes nas cidades. A migração do campo para as cidades criou um “inchaço” populacional, que foi muitas vezes acompanhado de condições sanitárias precárias para essas pessoas.

O Lancet Countdown, muito mais do que um relatório alarmista, é um estudo que propõe soluções para combatermos o avanço do aquecimento global. Até o ano 2030, serão publicados acompanhamentos das iniciativas ambientais nesse sentido, com o objetivo de adequá-las para frear os efeitos negativos do fenômeno. No combate e vigilância do Aedes, o Brasil avança com tecnologia. Saiba mais sobre como ela auxilia no combate aos arbovírus.