18_07_18_AvançodaCHikungunya

Avanço da Chikungunya: o pior ainda está por vir?

Quatro fatores que contribuem para o avanço da doença; uma alternativa para contê-la

 

Ainda no mês passado, a cidade de Santiago, na Região Central do Rio Grande do Sul, enfrentou um surto de Chikungunya, doença transmitida pelo Aedes aegypti. Foram 52 casos suspeitos da doença, com 12 confirmados. As novas ocorrências ligaram novamente o alerta para uma possível epidemia nacional, e o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Maurício Lacerda Nogueira, declarou que pode haver uma nova onda da doença no Brasil ao longo dos próximos dois anos.

A previsão, que foi corroborada em estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em parceria com o Instituto Butantan, estima que o pico de infecção pode ser atingido já no próximo ano. A expectativa é que as áreas mais afetadas sejam o Nordeste e a faixa litorânea na região Sudeste.

A partir dessas informações, autoridades de saúde estão trabalhando para mitigar essa possibilidade. Confira neste post quatro fatores que podem contribuir para esse cenário, e uma forma inteligente para evitá-lo.

 

1 – Rápido avanço do vírus

Os vírus da Zika e a Chikungunya não entraram no Brasil trazidos pelos mosquitos, mas por humanos contaminados. E esse ciclo pode continuar, já que alguns fatores como a globalização econômica, aumento da oferta do serviço de viagens aéreas e incentivo ao turismo contribuem para a maior circulação de pessoas.

Mesmo com ações de controle e mitigação do mosquito em uma área que há foco da doença, é difícil controlar totalmente o fluxo do vírus. Para maximizar as chances de entender sua proliferação, é necessário um monitoramento integrado que possa reunir informações para uma tomada de ação assertiva.

 

2 – Dificuldades no diagnóstico e tratamento

O Aedes aegypti é o vetor de quatro doenças diferentes: Dengue, Zika, Chikungunya e, em sua variação urbana, a Febre Amarela. As três primeiras são doenças febris agudas, com sintomas muito parecidos: cefaleias (dores de cabeça), exantemas (vermelhidão na pele) e mialgia (dor muscular). Apenas o diagnóstico molecular permite diferenciar um caso do outro, mas este exame é caro e lento para ser aplicado em grande escala.

Como a Dengue pode ser letal, diferentemente das Zika e Chikungunya, a recomendação é que os hospitais tratem os casos suspeitos como Dengue. Isso ajuda a evitar ocorrências fatais, mas dificulta a coleta de dados para compreender como o vírus se espalha e o que fazer para evitar um surto.

 

3 – O ambiente perfeito para o inimigo

O Brasil tem hoje dois fatores que podem agravar uma eventual epidemia do vírus: seu clima e sua dimensão territorial. O ambiente tropical possui naturalmente um volume alto de mosquitos, uma vez que oferece condições perfeitas para a sua reprodução.

Por ser um país de dimensões continentais, a população está geograficamente dispersa. Logo, a agilidade das políticas de prevenção e combate dos focos, bem como a disseminação de informação à população fica prejudicada. Combinados, esses dois fatores podem levar à tempestade perfeita para a propagação do vírus.

 

4 – Complexidade do combate

Ainda que o governo intensifique as ações em momentos críticos, e a própria população aumente o volume de gastos com medicamentos e repelentes artificiais, essas são medidas paliativas. A propagação da doença muitas vezes é condicionada por variáveis sociais, como o acesso a serviços sanitários básicos, a disponibilidade de água canalizada, destinação correta do lixo, entre outras.

O esforço para combater o mosquito e as doenças que ele transmite é enorme, e vai muito além de evitar focos de água parada. São necessárias políticas públicas e engajamento da população nas estratégias de combate para neutralizar a propagação do Aedes.

 

Uma alternativa inteligente

Para definir quando, onde e como agir em políticas de saúde, é preciso manter um monitoramento inteligente. E para um entendimento global do problema, três aspectos principais devem ser considerados: infestação do mosquito, da circulação viral e de possíveis casos humanos. Essas três variáveis ajudam as autoridades de saúde a construir um relatório eficaz de causas e efeitos para decidir como agir.

Com essa base de dados consistente, as autoridades de saúde evitam o “tiro no escuro”: é possível a detecção antecipada, e a tomada de decisões acertada para aplicar os recursos e esforços corretamente. Além de mais eficiente, o custo benefício é muito melhor.