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Quais outras doenças transmitidas pelo Aedes podem atingir o Brasil?

Conheça os vírus Mayaro, Febre do Nilo Ocidental, Encefalite Equina do Leste e Rocio

Já falamos por aqui vários motivos pelos quais o Aedes aegypti é tão eficiente na transmissão de arboviroses. Ele se adaptou a estar perto dos seres humanos, nos centros urbanos, e hoje está presente em todos os cinco continentes. Outras fatores como alta reprodutibilidade, flexibilidade nos hábitos de alimentação e alta simbiose com o vírus, fazem com que ele seja um importante vetor de mais de 20 vírus pelo mundo.

 

Distribuição global dos vetores de arbovírus Aedes aegypti e Ae. albopictus.

Distribuição global dos vetores de arbovírus Aedes aegypti e Ae. albopictus.
Fonte: Revista eLife.

 

Muito se fala sobre o perigo da entrada de novos vírus transmitidos pelo Aedes no Brasil. Zika e Chikungunya são exemplos de doenças que conseguiram se estabelecer rapidamente no país, a partir de 2014 e 2015, causando surtos e epidemias. Outras arboviroses estão em nosso radar, algumas já presentes no país de alguma forma, outras em nossos vizinhos da América:

 

  • Mayaro

O aparecimento do vírus Mayaro no Haiti, em 2016, surpreendeu a comunidade mundial. Anteriormente, o Mayaro só aparecia ocasionalmente, em lugares isolados da floresta amazônica e outras partes silvestres da América Latina, incluindo o Brasil.

O primeiro surto no país foi em 1955 e o Mayaro também aparece esporadicamente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Segundo o Ministério da Saúde, entre dezembro de 2014 e janeiro de 2016, foram contabilizados 343 casos suspeitos da doença.

Assim como a chikungunya, os sintomas da doença do Mayaro são febre, dores de cabeça, nos músculos e nas articulações, estas últimas podendo ser limitantes e durar por vários meses, ou até anos.

Como sua manifestação até então é silvestre, os vetores também são deste ambiente, como os da espécie Haemagogus janthinomys. Seu nome pode ser familiar, pois mosquitos do gênero Haemagogus transmitem a Febre Amarela silvestre. Apesar disso e também semelhante à Febre Amarela, estudos recentes comprovam que tanto o Aedes aegypti quanto o Aedes albopictus são capazes de transmitir o vírus. Já uma diferença entre a Febre Mayaro e a Febre Amarela é o seguinte: não existe vacina para a Mayaro.

 

  • Febre do Nilo Ocidental

Em julho de 2014, foi documentado o primeiro caso de Febre do Nilo Ocidental no Brasil, em Aroeiras, no Piauí. Apesar de haver estudos indicando a possibilidade da circulação desse vírus no país desde 2005, esse foi o primeiro diagnóstico da doença em humanos. No entanto, existem indícios da Febre em animais desde 2009, encontrados no Pantanal.

Foi após emergir nos EUA, em 1999, que o vírus da Febre do Nilo Ocidental se dispersou entre outros países da América do Norte, Central e do Sul, como Colômbia, Venezuela e Argentina. Sua origem remonta a Uganda, onde foi isolada pela primeira vez em 1937, tendo circulado também por localidades na África, Ásia, Oceania, Europa e Oriente Médio.

A maioria dos pacientes que contraem a Febre do Nilo são assintomáticos, mas quando ela se manifesta apresenta febre, dor de cabeça, enjoo e vômito. A forma mais agressiva da doença, que acomete cerca de 1% dos infectados, pode gerar problemas neurológicos graves, como meningite e encefalite, podendo ser fatal.

 

  • Encefalite Equina do Leste

A Encefalite Equina do Leste também é muito presente nos Estados Unidos, especialmente em várzeas e regiões pantanosas próximas ao litoral do oceano Atlântico e Golfo do México. Apesar de ser rara, é considerada uma doença grave, por poder causar inchaço cerebral.

A Encefalite também já foi identificada no norte da América do Sul, América Central e Caribe, além do próprio Brasil. Aqui, foi encontrada em cavalos desde o Amazonas até o Mato Grosso do Sul, bem como no nordeste e sudeste do país. No entanto, o Brasil ainda não possui casos humanos.

O vírus que causa a EEL é transmitido pela picada do Aedes e do Culex. Os mosquitos são infectados quando picam aves infectadas e podem, então, se alimentar em equinos, humanos e outros mamíferos. Embora os humanos, equinos e outros tipos de mamíferos possam ser infectados, eles não transmitem a doença.

 

  • Rocio

Poucos conhecem a história do Rocio, que causou uma epidemia em São Paulo nos anos 70, durante a ditadura militar. Foram registrados 1.021 casos de encefalite causados por esse arbovírus, dos quais 20% sobreviveram com graves sequelas e 10% morreram em decorrência da doença.

Estudos sugerem que a transmissão do vírus ocorre pela picada de mosquitos do gênero Aedes, Psorophora e Culex, e seu reservatório (como são os macacos para a Febre Amarela) seriam pássaros silvestres como o tico-tico (Zenothrichia capensis).

Os primeiros sintomas da doença eram febre, cefaleia, anorexia, náusea, vômitos, mialgia e mal-estar. Depois, passavam para sintomas indicativos de encefalite, como confusão mental, distúrbios motores, irritação meníngea, síndromes cerebelares e convulsões. Já as sequelas iam desde distúrbios sensitivos e motores, a distúrbios de equilíbrio, disfalgia, incontinência urinária e problemas de memória.

Ainda hoje, alguns pesquisadores acreditam que existam casos esporádicos ou pequenos surtos que possam ser confundidos com dengue. No entanto, não houve mais registros em humanos desde o fim da epidemia no fim da década de 70. Recentemente, segundo artigo da Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba/PUC-SP, houveram evidências da infecção ROCV em cavalos no Brasil.

 

É evidente que há a necessidade de se monitorar de perto o Aedes, para não sermos pegos de surpresa por esses novos e velhos perigos das arboviroses no Brasil. Clique aqui e entenda por que o monitoramento é tão importante.