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A Febre Mayaro e outras primas da Zika no Brasil

Mais arboviroses transmitidas pelo Aedes podem causar malformações em fetos

Em 2015, a comunidade científica não esperava ver o vírus Zika causar malformações – como a microcefalia – em fetos. Os danos infligidos a eles, através da infecção na mãe grávida, foi uma situação inédita, 70 anos após o primeiro caso documentado de Zika.

Hoje, receia-se que não apenas o Zika, mas vários de seus primos – os vírus Nilo Ocidental, Powassan, Chikungunya e Mayaro – ofereçam o risco de se infiltrarem na placenta. Foi o que discutiu um estudo publicado na edição 426 da revista “Science Translation Medicine”, no fim de janeiro.

A pesquisa, realizada nos Estados Unidos, infectou fêmeas grávidas de camundongos. O resultado mostrou todos os quatro vírus causando infecção placentária. Essa infecção seria um indicativo do risco de haver microcefalia, malformações e morte fetal, como foi com a Zika nos últimos anos. Neste estudo, a morte fetal ocorreu apenas no caso das associadas ao Nilo Ocidental e Powassan.

Especialistas como Alysson R. Muotri, biólogo molecular da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, observam algumas limitações na pesquisa, mas reconhecem nela um alerta. “Serve como uma nota de cautela, já que se sabe da capacidade desses outros vírus infectar as células da placenta,” disse ao UOL. O uso da placenta do camundongo, consideravelmente diferente da humana, é uma dessas limitações. “E mais, os pesquisadores usaram o vírus protótipo, sem mutação extra. Já o vírus zika, que gerou as más-formações, era mutante.”

 

A Febre Mayaro no Brasil

 

A descoberta, junto ao aparecimento do vírus Mayaro no Haiti em 2016, aponta para o risco e gravidade de novas epidemias, com arboviroses que podem ser transmitidas pelo Ae. aegypti. O surto de Mayaro no Caribe revelou um vírus diferente dos anteriores, o que poderia indicar que ele está sofrendo mutações.

O local onde foi encontrado também não é usual. Anteriormente, o Mayaro só aparecia ocasionalmente, em lugares isolados da floresta amazônica e outras partes silvestres da América Latina, incluindo o Brasil. O primeiro surto no país foi em 1955 e ele aparece esporadicamente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Segundo o Ministério da Saúde, entre dezembro de 2014 e janeiro de 2016, foram contabilizados 343 casos suspeitos da doença.

Assim como a chikungunya, os sintomas da doença do Mayaro são febre, dores de cabeça, nos músculos e nas articulações, estas últimas podendo ser limitantes e durar por vários meses, ou até anos.

Como sua manifestação até então é silvestre, os vetores também o são, como o Haemagogus janthinomys. Seu nome pode ser familiar, pois mosquitos do gênero Haemagogus transmitem a Febre Amarela silvestre. Apesar disso e também semelhante à Febre Amarela, estudos recentes comprovam que tanto o Aedes aegypti quanto o Aedes albopictus são capazes de transmitir o vírus. Já uma diferença entre a Febre Mayaro e a Febre Amarela é o seguinte: não existe vacina para a Mayaro.

Como já falamos por aqui, o Aedes aegypti é capaz de transmitir mais de 20 vírus e, para a maioria deles, não existe vacina. É por isso que combater Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela e outras dezenas de vírus, como o Mayaro, depende prioritariamente de controlar o vetor. Saiba mais sobre medidas de controle em nosso e-book, “Combatendo o Aedes”.